(SONS)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Manosolfa

     
Um poeta tem uma boca em sua mão,
tem alto-falantes em seus cotovelos
e cicatrizes em suas costas.

       Seu sangue é azul, preto e às vezes vermelho.
Sua mão balbucia ar num canto de folha branca,
e se ela não respira morre um poema sufocado.

O poeta morre aos poucos,
descrevendo sua paixão pelas palavras e pela dor,
com uma mistura de tesão e loucura.

Mascaras rodopiam na manhã.

O artista seja ele quem for, qual for e pelo que for
tem lábios frementes e fantasmas a acossa-lo.
Manosolfa uma ópera monologa para as paredes
que reverberam o que querem a esmo, e mesmo que vangloriosos
gritos ecoem pelos labirintos dos ouvidos,
mesmo assim, denigre a profundidade.

A profundidade fica à encolha, escondida
ali, onde ninguém viu, prestou atenção,
onde o criador escondeu para si a criação, a sua melhor sendo pior arte.
Um poeta usa uma mascara ao avesso, desenhada toscamente à caneta.
E ela roda pela manhã, mostra os dois lados da moeda:
o que ele quer mostrar e o que se mostra sem querer.

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