(SONS)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Galinha Progressista

 
Passou por aqui a ignorância travestida de coragem,
armando com fuzis investidas pela cidade apagada.
Ritmavam-se os tiros perdidos embalados pela sorte
como em uma ópera de morte que chega ao seu ponto mais dramático.
O silêncio da noite ressaqueada dilatava as pupilas
dos prédios, das casas, das praças enquanto a soprano debaixo
das rodas da moto fazia o seu solo entre os gritos do vento
nos retrovisores embaçados fumê do Centro Cultural Oscar Niemeyer.

Foram marcadas treze digitais negras de mãos imundas
no cérebro de concreto armado do submundo.
Não tiveram chance de reagir: todos os livros se estremeceram
de cima de suas prateleiras, Drummond, Cecília, Manoel Bandeira,
Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, João Cabral de Melo Neto,
Machado de Assis etc. todos foram por um instante mortais.
Na estante escura, sitiada pelo medo, as palavras se tornaram nada,
entrou pelas frestas dos disparos os díspares ares que se conflitam até hoje.

Os tiros aqui cravados há sete anos provam que vidros
não cicatrizam sozinhos. Provam que a espada é mais poderosa que a pena.
São a prova, irrefutável, que em Duque de Caxias a galinha não cisca para trás.
Cisca, sim, para frente, para debaixo de suas asas o vil metal emborrachado
da beira das Rodovias. Essa é a cidade dos pretos líquidos fétidos de ouro de tolo
inflamável, das concessões empoeiradas levadas pelo tempo perdido à sombra do sol,
da eterna ignorância parda em Cieps nojentos como o hálito de um Prefeito
broxa dormindo há duas horas em sua cadeira na Alameda Esmeralda, 206.

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