(SONS)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Formiga em branco e preto

   
Contida, num canto de espaço em branco
das linhas do pentagrama,
uma formiga musical pinta as notas:
lá, si, si bemol. Transfigura o belo desfragmentado
das cores na parede em fragmento de melodia.
Caminha nas teclas do piano empoeirado,
toca si, pisa lá e si bemol.
Desafina todas as teias de aranha,
a poeira desprende-se do telhado como cortina,
como cachoeira de cal e barro.

Velharias imóveis, rostos, olhares e tudo
nas paredes como lembrança de um êxodo repentino.
Insetos, o escuro e as janelas fechadas,
uma formiga sem futuro. Um futuro, um talento
e sua espécie. Sua espécie, a música e sua platéia:
o escuro, o espelho de um vampiro, a poça imunda do mundo.
Monocromia de coloridos, escorre pelos ouvidos
e enquanto isso choram de felicidade e de dor.
Dobram a esquina como dois vis amantes
que somem da vista ao apagar de lâmpadas.

A rua se casabandona igual a sala de concertos
de um inseto prodigioso em melodias. O universo se superpopula de formigas,
e as cigarras são poucas. As bocas pedem água e pão; sede e fome
fazem linhas de verde e outras cores pelo chão do mundo de areia.
As estátuas de mármore e monumentos esculpidos nas vibrações do ar
se perdem pelos ouvidos que não ouviram. Que apenas trabalham.

Enquanto isso nossa formiga compõe a sinfonia dos cegos.

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